terça-feira, fevereiro 10, 2009

Caro João Queiroga

A culpa pode nem ser completamente sua, mas assina a vergonha de trabalho que vimos esta semana, portanto, é a si que me dirijo. Não conhece o meu blogue, obviamente, mas confio que um dia, num daqueles exercícios narcísicos de experimentar o próprio nome no Google venha aqui parar. A minissérie A Vida Privada de Salazar, que integrou a programação da SIC no domingo e segunda-feira em horário nobre, é, no mínimo, de uma qualidade deplorável. Quando eu pensava que muito se tinha evoluído em Portugal em termos de produção nacional, eis que surge uma autêntica corrente bem fluída de imbecilidade cinematográfica, com erros de iluminação e de caracterização de fazer rachar túmulos em Santa Comba Dão. Aquela cena em que o Diogo Morgado (Salazar) contracena com a Soraia Chaves (Maria Emília) enquanto esta faz um strip à luz de um candeeiro de abat-jour colorido… É de rir à casquinada. Faça-nos um favor: volte a ver essa passagem, repare na localização do candeeiro na cena e veja onde incide a luz colorida no corpo de Soraia Chaves. Veja e reveja, se necessário for, e reflicta muito bem para que da próxima vez não volte a considerar que os espectadores portugueses são uns mentecaptos para os quais qualquer merda serve. Quase juraria sem o conhecer que o Edward Wood é um ídolo seu. Ainda aquela cena do side-car, os planos de corte… tudo muito mau, mesmo.

A caracterização, essa então, é de teatro amador de escolinha de bairro. A tentativa de envelhecimento do Filipe Vargas (Cardeal Cerejeira), por exemplo, deu-me a volta ao estômago, com toda aquele besunto sobre a pele e cabelo até o actor se assemelhar a um boneco de cera de museu barato. E muito mais haveria para dizer, mas acho que se resume bem aqui o nível do trabalho e de irresponsabilidade cinematográfica com que V. Exa. nos contemplou. Pior que isso, só mesmo a senhora idosa no filme Capitães de Abril a gritar Viva a Liberdade Sexual no dia da revolução.

Meu caro, decorei o seu nome. Para mim, a partir de agora, a sua assinatura será uma imagem de marca quando vir os créditos de qualquer produção cujo visionamento eu pondere.

Keep on trying (or not).

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