Há pessoas que, por muito que tentem, não se libertam de uma inexplicável incapacidade de, de vez em quando, nem que seja para respirar, pôr os seus dogmas de parte e olhar para o mundo de uma forma reflectida e limpa. Ontem vi pela primeira vez um programa de meia-hora na SIC chamado Ponto Contraponto, apresentado por Pacheco Pereira. Não sei se é uma novidade da grelha daquele canal ou se, simplesmente, atraiçoado pela minha distracção, este momento sui generis de televisão já existe há mais tempo e não se me tinha atravessado ainda à frente.
Pacheco Pereira é um homem que critica o que lhe apetece. E faz bem. Sou dos que defendem que a crítica sempre construiu, mesmo quando lhe chamam destrutiva (a minha profissão, por exemplo, sempre foi alvo dos seus ataques e sempre ouvi de forma útil os argumentos utilizados). Mas eis então que Pacheco Pereira tem um programa de televisão só seu, onde diz o que lhe apetece e, pelo que percebi, sempre defendendo a imparcialidade como uma virtude (deduzo pela forma como criticou, e com razão, algum jornalismo). Por isso, e com total imparcialidade e objectividade (ou o programa faz parte do tempo de antena social democrata e eu não vi essa anotação?) elege como crítica, e apelidando de Mau jornalismo, o tratamento dado pelo Diário de Notícias a uma peça sobre Manuela Ferreira Leite e o PSD, o texto que considerou propagandístico de um decreto-Lei recente no Diário da República, e elogiou de forma extasiada um artigo da revista Exame onde o computador Magalhães era examinado até às entranhas para que ficasse demonstrado que de português pouco tem.
Não vou negar, por um acaso raro concordei com tudo o que Pacheco Pereira disse. Mas pondo de parte a hipótese de coincidência, creio que Pacheco Pereira deveria ser um pouco mais sensato quando analisa o mundo num programa de televisão que se quer objectivo para que seja minimamente útil.
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