segunda-feira, julho 06, 2009

Dogmas sem contraponto

Há pessoas que, por muito que tentem, não se libertam de uma inexplicável incapacidade de, de vez em quando, nem que seja para respirar, pôr os seus dogmas de parte e olhar para o mundo de uma forma reflectida e limpa. Ontem vi pela primeira vez um programa de meia-hora na SIC chamado Ponto Contraponto, apresentado por Pacheco Pereira. Não sei se é uma novidade da grelha daquele canal ou se, simplesmente, atraiçoado pela minha distracção, este momento sui generis de televisão já existe há mais tempo e não se me tinha atravessado ainda à frente.

Pacheco Pereira é um homem que critica o que lhe apetece. E faz bem. Sou dos que defendem que a crítica sempre construiu, mesmo quando lhe chamam destrutiva (a minha profissão, por exemplo, sempre foi alvo dos seus ataques e sempre ouvi de forma útil os argumentos utilizados). Mas eis então que Pacheco Pereira tem um programa de televisão só seu, onde diz o que lhe apetece e, pelo que percebi, sempre defendendo a imparcialidade como uma virtude (deduzo pela forma como criticou, e com razão, algum jornalismo). Por isso, e com total imparcialidade e objectividade (ou o programa faz parte do tempo de antena social democrata e eu não vi essa anotação?) elege como crítica, e apelidando de Mau jornalismo, o tratamento dado pelo Diário de Notícias a uma peça sobre Manuela Ferreira Leite e o PSD, o texto que considerou propagandístico de um decreto-Lei recente no Diário da República, e elogiou de forma extasiada um artigo da revista Exame onde o computador Magalhães era examinado até às entranhas para que ficasse demonstrado que de português pouco tem.

Não vou negar, por um acaso raro concordei com tudo o que Pacheco Pereira disse. Mas pondo de parte a hipótese de coincidência, creio que Pacheco Pereira deveria ser um pouco mais sensato quando analisa o mundo num programa de televisão que se quer objectivo para que seja minimamente útil.

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