Não perdi ainda a esperança de que um dia alguém me explique o abstruso raciocínio que leva a que se use o casaco por cima dos ombros, sem enfiar os braços nas mangas. Tenho para mim que um casaco se apresenta apenas em duas condições de estado: vestido ou despido. Aliás, devo dizer que sempre conjecturei sobre as pessoas que põem casacos apenas por cima dos ombros. Confesso mesmo que nunca porei as mãos no lume por alguém que prima por esta bizarra prática. Vistas bem as coisas, é que não faz sentido rigorosamente nenhum! Experimentei só um bocadinho, uma vez, apenas para ver se encontrava ali algum segredo, algo com que pudesse exclamar eh pá, mas e não é que isto é mesmo bom!, e a verdade é que só confirmei os meus receios. Não há nada mais desagradável do que ter o casaco em cima dos ombros. Para já, porque cai. Manter tão nobre traje onde está exige um esforço, um movimento constante de ombros, que em locais menos apropriados pode mesmo parecer suspeito. E, por outro lado, ou está frio, ou não está, nunca vi estar meio-frio. Pode muito bem ser preguiça, ou então alguém que quer ter mais facilidade no selvático hábito de coçar as axilas com as unhas, só que para isso há as capas. Mas capa é capa, casaco é casaco. Aqueles tubos flexíveis a que vulgarmente se chama mangas têm ali um salutar propósito e, no limite, desprezá-las começa logo por constituir um desrespeito pela arte de alfaiataria. E as capas sempre têm um cordelinho à frente para apertar, para não caírem. Mas enfim, façam lá a porra que quiserem.
1 comentário:
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