sexta-feira, março 21, 2008

O docinho mediático da santa época

Gosto pouco de frases feitas, mas sou forçado, neste momento, a recorrer àquela do... ora deixa ver se me lembro... Portugal é um país de brandos costumes, acho que é isto. Vai para mais de 30 horas que a notícia sensação que abre qualquer telejornal ou serviço noticioso é a da pirralha de 15 anos que, vendo-se desapossada do seu telemóvel em plena aula, empreende numa indescritível, vergonhosa e constrangedora atitude de violência contra uma professora.
O assunto é grave, naturalmente, e merece ser do conhecimento público, para que depois não se diga, como em outros assuntos, que certas coisas não acontecem. Sobretudo deverá provocar uma reflexão. Uma reflexão de pais, professores e não só. Eu, que vou ser pai em Julho, vi-me forçado a ver as imagens desta triste cena de um ângulo bem diferente. Porque nestas coisas, aquela fantástica atitude que é apanágio da natureza humana de encontrar no culpar alguém a forma mais fácil de encarar um problema chamaria para o previsível A culpa é dos paisinhos. Se fosse minha filha...

PRIMEIRO: Estamos a tempo de pensar na forma como queremos que as escolas portuguesas funcionem daqui para frente, visto que relatos como estes têm-se intensificado desde que os psicólogos inventaram um sem-número de rodomas de vidro para os adolescentes mais insubordinados que, "coitadinhos", precisam é de ser compreendidos. Não gosto de me nivelar por baixo, obviamente, mas ainda temos tempo até chegar aos absurdos casos que vamos tendo conhecimento dos Estados Unidos.

SEGUNDO: Por achar que tudo isto merece uma inevitável reflexão, como já referi, não consigo deixar de ficar chocado com o imediato aproveitamento político que, na tal cobardia humana, a primeira coisa que traz à tona é o Em quem vamos meter as culpas. Em vez de pensar em formas de pensar o problema e de estimular a tal reflexão, o CDS-PP já fez saber que pretende crucificar a ministra da Educação em pleno Parlamento, porque assim sempre faz figura e depois até poderá dizer que foi o primeiro a tentar resolver o assunto. Provavelmente, já deverá estar a construir os argumentos todos para demonstrar que a culpa é de Maria de Lurdes Rodrigues, trabalho facilitado até por a ministra ser o elo mais fraco dos últimos dias. Vale o facto de a senhora já ter criado calo a ser parangona de jornal, sobretudo depois de se ter "atrevido" a fomentar a avaliação dos professores, coitados, que se consideram todos excelentes e, como tal, sentiram-se ofendidos por alguém pôr em causa o seu profissionalismo, tal como se faz em outros sectores de actividade.

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